segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Artigo sobre educação: Relações Afetivas no Processo Ensino-Aprendizagem

RELAÇÕES AFETIVAS IMPLÍCITAS NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

      
Pensar em educação demanda refletir sobre o conceito que cada protagonista desse cenário, pais, professores e alunos, tem sobre ela e sobre como implementá-la em sua prática. Também, pensar em trabalhar o ser humano em sua totalidade, observar como se dá o seu desenvolvimento e relacionamento com o mundo que o cerca.
Conceber e desenvolver processos educativos no aluno com deficiência requer a observação de seu desenvolvimento individual, bem como, as relações que estabelece com os demais, para através da mediação estabelecer parâmetros de avanços em sua aprendizagem.
Como ressaltou Wallon (1995, p. 102):


Ora, sem atividade coletiva não há conhecimento, nem linguagem, nem simbolismo possível. Se, pois, a emoção ritualizada desempenha sem dúvida um papel no advento da atividade simbólica, se ela parece ter antecedido as manifestações mais decisivas da vida e da alma coletiva, é preciso reconhecer nela um intermediário necessário entre o automatismo e o conhecimento.


            Para o autor, o desenvolvimento dos indivíduos se dá a partir da convivência coletiva. A emoção é anterior a muitas conquistas das pessoas em seu desenvolvimento, pois para ele, desde as primeiras manifestações públicas/ sociais da história humana, os indivíduos se reúnem em grupos e se expressam através da emoção momentânea.
Considera-se que aprender é aprender com alguém, ou seja, o ato de aprender sempre pressupõe uma relação com outra pessoa, a que ensina.
Conforme Codo e Gazzoti (1999, p. 98), o elo de afetividade vai se formando numa troca entre os pares e é mediante o estabelecimento de vínculos afetivos que ocorre o processo ensino-aprendizagem. O ensino inclusivo proporciona essa integração ao professor e ao aluno. Ambos aprendem como atuar e interagir com seus pares no mundo real.
Para Vygotsky, a transformação dos processos mentais elementares em funções superiores ocorre por meio das atividades mediadas e por meio das ferramentas psicológicas, dando a compreender que a formação da subjetividade individual decorre do relacionamento com os outros. As análises de Vygotsky (1993) conduziram a propor que o desenvolvimento de uma criança deficiente representa, sempre, um processo criativo e que essa criança apresenta meios particulares de processar o mundo. A abordagem de Vygotsky incorpora a noção de compensação, pois no contato do indivíduo deficiente com o mundo externo surgem conflitos, e a resolução desses conflitos pode propiciar a emergência de soluções alternativas, que se constituem em formas qualitativamente diferentes das funções psicológicas superiores.
Desta maneira, Vygotsky assume uma posição que privilegia a importância dada à aprendizagem escolar como promotora do desenvolvimento e que reconhece o papel desempenhado pelo professor como mediador no processo de aquisição de conhecimento, na formação de conceitos científicos e no desenvolvimento cognitivo de seus alunos. Como ressalta Páez (2001, p. 33),

A inclusão pode trazer benefícios incontestáveis para o desenvolvimento da pessoa com deficiências, desde que seja oferecido na escola regular, necessariamente, uma Educação Especial que, em um sentido mais amplo, “significa educar, sustentar, acompanhar, deixar marcas, orientar, conduzir

Desta forma, a inclusão escolar pressupõe mudanças relacionadas a posturas frente às concepções que circulam o ambiente escolar. É necessário edificar práticas que realmente estimulem a autonomia, a criatividade e a ampliação das competências do aluno com deficiência. Para Esteban (1989, p.77),
[...] a concepção que o professor tem de mundo e de homem tem relação com sua concepção sobre o processo de alfabetização, assim como a leitura que faz do desenvolvimento da criança tem relação com a qualidade da sua intervenção.

É evidente que a pessoa com deficiência se beneficia das interações sociais e da cultura na qual está inserida, sendo que essas interações, se desenvolvidas de maneira adequada, serão propulsoras de mediações e conflitos necessários ao desenvolvimento pleno do indivíduo e à construção dos processos mentais superiores (Vygotsky, 1987, p.96).


6  REFERÊNCIAS

ESTEBAN, M. T.. Repensando o fracasso escolar. Caderno de Pesquisa – CEDES. 28, 73-86. 1989.

PÁEZ, S. M. C.. A integração em processo: da exclusão à inclusão. Escritos da criança, 6, 29-39. 2001.

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,
1984.

VYGOTSKY. L. S. Pensamento e linguagem. (J. L. Camargo, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. 1987.  (Trabalho original publicado em 1962).

WALLON. In LATAILE, Y; OLIVEIRA, V; DANTAS, H. Piaget, Wygotsky, wallon: Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.



Ivania Rossatto Facco
Pós-graduada em Neuropsicopedagogia e Educação Escolar Inclusiva






Nenhum comentário:

Postar um comentário