RELAÇÕES AFETIVAS IMPLÍCITAS NO
PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM
Pensar em educação
demanda refletir sobre o conceito que cada protagonista desse cenário, pais,
professores e alunos, tem sobre ela e sobre como implementá-la em sua prática.
Também, pensar em trabalhar o ser humano em sua totalidade, observar como se dá
o seu desenvolvimento e relacionamento com o mundo que o cerca.
Conceber e desenvolver
processos educativos no aluno com deficiência requer a observação de seu
desenvolvimento individual, bem como, as relações que estabelece com os demais,
para através da mediação estabelecer parâmetros de avanços em sua aprendizagem.
Como ressaltou Wallon (1995, p. 102):
Ora, sem
atividade coletiva não há conhecimento, nem linguagem, nem simbolismo possível.
Se, pois, a emoção ritualizada desempenha sem dúvida um papel no advento da
atividade simbólica, se ela parece ter antecedido as manifestações mais
decisivas da vida e da alma coletiva, é preciso reconhecer nela um intermediário
necessário entre o automatismo e o conhecimento.
Para
o autor, o desenvolvimento dos indivíduos se dá a partir da convivência
coletiva. A emoção é anterior a muitas conquistas das pessoas em seu
desenvolvimento, pois para ele, desde as primeiras manifestações públicas/
sociais da história humana, os indivíduos se reúnem em grupos e se expressam
através da emoção momentânea.
Considera-se que aprender
é aprender com alguém, ou seja, o ato de aprender sempre pressupõe uma relação
com outra pessoa, a que ensina.
Conforme Codo e Gazzoti
(1999, p. 98), o elo de afetividade vai se formando numa troca entre os pares e
é mediante o estabelecimento de vínculos afetivos que ocorre o processo
ensino-aprendizagem. O ensino inclusivo proporciona essa integração ao
professor e ao aluno. Ambos aprendem como atuar e interagir com seus pares no
mundo real.
Para Vygotsky, a transformação dos processos mentais
elementares em funções superiores ocorre por meio das atividades mediadas e por
meio das ferramentas psicológicas, dando a compreender que a formação da
subjetividade individual decorre do relacionamento com os outros. As análises
de Vygotsky (1993) conduziram a propor que o desenvolvimento de uma criança
deficiente representa, sempre, um processo criativo e que essa criança
apresenta meios particulares de processar o mundo. A abordagem de Vygotsky
incorpora a noção de compensação, pois no contato do indivíduo deficiente com o
mundo externo surgem conflitos, e a resolução desses conflitos pode propiciar a
emergência de soluções alternativas, que se constituem em formas
qualitativamente diferentes das funções psicológicas superiores.
Desta maneira, Vygotsky assume uma posição que
privilegia a importância dada à aprendizagem escolar como promotora do
desenvolvimento e que reconhece o papel desempenhado pelo professor como
mediador no processo de aquisição de conhecimento, na formação de conceitos
científicos e no desenvolvimento cognitivo de seus alunos. Como ressalta Páez
(2001, p. 33),
A inclusão pode trazer benefícios
incontestáveis para o desenvolvimento da pessoa com deficiências, desde que
seja oferecido na escola regular, necessariamente, uma Educação Especial que,
em um sentido mais amplo, “significa educar, sustentar, acompanhar, deixar
marcas, orientar, conduzir”
Desta forma, a inclusão escolar pressupõe mudanças
relacionadas a posturas frente às concepções que circulam o ambiente escolar. É
necessário edificar práticas que realmente estimulem a autonomia, a
criatividade e a ampliação das competências do aluno com deficiência. Para
Esteban (1989, p.77),
[...] a concepção que o professor tem de mundo e de homem tem relação com sua concepção sobre o processo de alfabetização, assim como a
leitura que faz do desenvolvimento
da criança tem relação com a qualidade da sua intervenção.
É evidente que a pessoa com deficiência
se beneficia das interações sociais e da cultura na qual está inserida, sendo
que essas interações, se desenvolvidas de maneira adequada, serão propulsoras
de mediações e conflitos necessários ao desenvolvimento pleno do indivíduo e à
construção dos processos mentais superiores (Vygotsky, 1987, p.96).
6 REFERÊNCIAS
ESTEBAN, M. T.. Repensando o fracasso escolar. Caderno de Pesquisa – CEDES. 28, 73-86. 1989.
PÁEZ, S. M. C.. A integração em
processo: da exclusão à inclusão. Escritos
da criança, 6, 29-39. 2001.
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins
Fontes,
1984.
VYGOTSKY. L. S. Pensamento e linguagem. (J. L. Camargo, Trad.). São Paulo: Martins
Fontes. 1987. (Trabalho original
publicado em 1962).
WALLON. In LATAILE, Y; OLIVEIRA, V; DANTAS, H. Piaget, Wygotsky, wallon:
Teorias psicogenéticas em discussão. São
Paulo: Summus, 1992.
Ivania Rossatto Facco
Pós-graduada em Neuropsicopedagogia
e Educação Escolar Inclusiva
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